Lula Marques/Folha
'Fora Sarney' só no exterior do prédio, sob repressão da Segurança da Casa e da PM
Reunidos no final da tarde desta quarta (12), o tucano Sérgio Guerra e o ‘demo’ José Agripino Maia firmaram uma espécie de pacto.
Haja o que houver, os cinco votos de que dispõe a oposição no Conselho de (a)Ética –três do DEM e dois do PSDB— serão sempre contrários a José Sarney.
Mais: vão lançar mão de todos os recursos à disposição para tentar levar Sarney a um julgamento no plenário do Senado.
Foi a forma que o presidente do PSDB e o líder do DEM encontraram para tentar espantar o noticiário segundo o qual selaram um acordo com a tropa de Sarney.
Embora neguem o acerto, o fantasma os assombra nas manchetes faz três dias. Apresenta-se no superlativo: “Acordão”.
Consistiria no seguinte: a oposição desiste de importunar Sarney e a tropa do líder do PMDB, Renan Calheiros, livra a cara do tucano Arthur Virgílio.
“Não tem acordo coisa nenhuma”, diz Agripino Maia. “Isso não existe”, ecoa Sérgio Guerra.
A despeito do compromisso de continuar empunhando lanças, os principais líderes do bloco anti-Sarney como que jogaram a toalha.
Entre quatro paredes, reconhecem que são mínimas as chances de Sarney ser arrancado da presidência.
Que dizer, então, da hipótese de o mandato de Sarney ser passado na lâmina? Bem, quanto a isso, já não restam dúvidas: a chance é nula.
Farejando o cheiro de queimado, Agripino trata de se vacinar contra a especulação de que teria dobrado os joelhos.
“Nossos votos serão contra Sarney. Se o governo dispõe de maioria, que use essa maioria para nos derrotar Conselho de Ética”.
De resto, Agripino trata de jogar o PT na fogueira. Diz contar com três votos do petismo para desarquivar ações contra Sarney no conselho.
Mais: espera que o PT mantenha também o “compromisso” de votar pela manutenção do arquivamento da representação contra o tucano Virgílio.
Quem primeiro pronunciou o vocábulo maldito –“acordo”— no Senado foi o líder de Lula, Romero Jucá.
Na tarde desta quarta, Jucá tentava explicar-se: não se referia à troca da absolvição de Sarney pela de Virgílio.
Tratava-se do seguinte: a briga deixaria de ser travada no plenário do Senado. Ficaria restrita ao foro "adequado", o Conselho de (a)Ética.
Agripino e Guerra mantêm com Jucá relações amistosas. Mas ambos asseguram que não foram procurados pelo colega.
O cheiro do acordo que todos dizem inexistir aumentou depois que o suplente de suplente Paulo Duque mandou à gaveta a ação do PMDB contra Virgílio.
A calmaria do plenário tonificou o odor. Nesta quarta (12), o "Fora Sarney" ficou restrito ao exterior do prédio do Congresso, numa faixa aberta por militantes do PSOL, sob repressão da Segurança e da PM.
Do lado de dentro, só o deus-nos-acuda do arquivamento do caso Virgílio. Em verdade, mais uma das manobras de Renan Calheiros, o ventríloquo de Duque.
Simultaneamente ao engavetamento que encomendara à marionete que mantém no comando do conselho, Renan preparou o recurso.
Na noite passada, o líder do PMDB já havia colecionado as cinco assinaturas necessárias para levar o arquivamento da ação de Virgílio a voto no conselho.
A idéia da tropa de Renan é a de dispensar a Virgílio o mesmo tratamento que a oposição conceder a Sarney. É quando se espera que entre em cena o PT. Os votos do petismo são vitais tanto num caso como noutro.
A julgar pelo que diz o líder Aloizio Mercadante, o PT pende para a reabertura de ao menos uma das ações contra Sarney e para a preservação de Virgílio.
Embora leve o pé atrás, a oposição fia-se nos compromissos que diz ter ouvido de Mercadante. Promessas que Renan tenta ver descumpridas.
Na noite de terça (11), o líder do PMDB foi a Lula. Encontrou-o no Centro Cultural do Banco do Brasil, sede provisória da presidência.
Renan queixou-se do PT. Espinafrou especialmente Mercadante, a quem acusa de fazer o jogo da oposição. Quer que Lula segure as rédeas do PT.
Enquanto espera pelo posicionamento do petismo, a oposição cuida de segurar os seus. Agripino teve de suar a camisa.
São três os representantes do DEM no Conselho de (a)Ética: Demóstenes Torres, Heráclito Fortes e Eliseu Resende.
Só Demóstenes vota contra com convicção. Heráclito claudicou. Disse que a condição de primeiro-secretário da Mesa presidida por Sarney o limita.
Para evitar surpresas, Agripino combinou com Heráclito a ausência dele nas reuniões deliberativas do conselho. Será substituído pela anti-Sarney Rosalba Ciarlini.
E quanto a Eliseu? Agripino teve com ele uma conversa franca. Nesse encontro, Eliseu assegurou que, mesmo a contragosto, votará contra Sarney.
Com os votos supostamente amarrados, PSDB e DEM se voltam para o PT. A julgar pelo que diz o próprio Mercadante, está combinado que Sarney voltará à grelha.
O suposto compromisso do PT limita-se, porém, à reabertura de pelo menos uma ação no conselho. Não há predisposição para condenações.
Assim, com ou sem acordão, Sarney fica. Na improvável hipótese de que o caso escalar o plenário do Senado, o salvamento virá com a ajuda de Silvérios da oposição.
No conselho, o voto é aberto. No plenário, é secreto. Um convite à infidelidade.
Escrito por Josias de Souza às 06h02
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