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quinta-feira, 25 de junho de 2009

O homem faliu - Sérgio da Costa Ramos

O homem faliu

É só ligar o noticiário: parece não haver mais inocentes no Brasil de hoje. Não há quem não pareça suspeito, até os insuspeitos.

As manchetes são de arrepiar os cabelos:  Menino de 11 anos atira no próprio pai. Polícia vai investigar neonazistas. Padre pedófilo diz que era seduzido. Mordomo dos Sarney ganhava 12 mil do Senado. Bandidos assaltam asilo de idosos.

De escândalo em escândalo, os brasileiros já se sentem anestesiados. Tornou-se comum a cena da mútua acusação, como se no Brasil de hoje todos fossem Émile Zola, o autor do maior libelo da história, um escritor com compostura moral para gritar:

— J’Accuse!

Nelson Rodrigues, o dramaturgo da alma brasileira, matou a charada:

— O homem faliu. Trata-se de uma espécie que não deu certo....

Nesse clima de opereta, em que os denunciados “presidem” os inquéritos, instala-se  no horizonte moral do país um inevitável efeito Orloff: o acusador de hoje é o Dreyfus de amanhã.

Só no Brasil um padre pedófilo e safado pratica a reconvenção, que é a artimanha jurídica de imputar à vítima a culpa pelo fato incriminado.

— Foram as criancinhas que me seduziram!!!

Como a credibilidade geral anda escassa, sacar a acusação primeiro que o adversário é vital para ganhar o cobertor da mídia e a simpatia da opinião pública. O efeito já é conhecido: “catinga” geral e a repulsa do eleitor, que vota com o nariz premido entre o indicador e o polegar.

Instala-se, então, um desconcertante enredo bíblico: todo mundo é Maria Madalena, mas todo mundo atira a primeira pedra, mesmo tendo culpa em cartório. O surrealismo supera Gabriel Garcia Márquez e sua imaginária Macondo: o confiante Maluf chama “os outros” de “corruptos” e se elege o deputado mais votado do país.

A baixaria é tanta que, para presidir esse “juizado de causas sinistras”, só mesmo um meritíssimo anão. Quem haveria de julgar com isenção nossos bufões da cena política?

Um juiz italiano, talvez. Da Operação Mãos Limpas, claro. O problema é que até aqueles meritíssimos sentiram a mão pesada dos criminosos. Depois de anos de condenações de políticos e empresários, os magistrados pareciam criaturas acima de qualquer suspeita. Até que o juiz Diego Curtó, do tribunal de Milão, um homem de reputação tida como inatacável, confessou ter recebido US$ 200 mil para favorecer um banco privado em processo de liquidação judicial.

Vincenzo Palladino, vice-presidente do tal banco, confessou sob o benefício da “delação premiada”:

— Entreguei pessoalmente o dinheiro ao juiz, em notas de cem, como sinal de gratidão pela sua sentença tendenciosa.

Denúncias, no Brasil, acabam como o juiz italiano. Ou como aquela “avó” que deu um tiro no bandido que a assaltava: denunciados.

O Brasil é o único país do mundo que solta o ladrão e processa a vítima por porte de arma.

Já não se sabe quem é a vaca e quem é o bezerro mamador. Não falta mais nada para o William Bonner anunciar no Jornal Nacional:

— Grave denúncia! A denúncia de ontem acaba de ser denunciada!

Postado por Sérgio da Costa Ramos às 08h17

O homem faliu (Sérgio da Costa Ramos) | Sérgio da Costa Ramos

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