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quarta-feira, 17 de junho de 2009

Sarney e o escândalo nosso de cada dia - O Globo

Artigo do leitor Yasha Jose Rizzante Gallazzi

É inegável que a morte de Tancredo Neves, tão prematura quanto inesperada, roubou do Brasil uma ótima chance de ser chefiado por um estadista austero e competente. Mas, ao nos deixar como principal legado a figura de José Sarney, a "indesejada das gentes" também agiu para atirar o país ainda mais fundo no limbo de descrença do qual tentava sair após duas décadas de regime militar.

O patriarca de uma das mais longas e conhecidas oligarquias que o Brasil já conheceu não se cansa da ribalta. Mais que isso: a cada dia fica mais evidente que Sarney também não se cansa de produzir escândalos em série, vilipendiando a democracia sem qualquer cerimônia e com uma desenvoltura capaz de dar inveja a nações de rica tradição totalitária. A mesma democracia que sucumbe a cada nova manchete, a cada novo parente beneficiado por meio de "atos secretos", é aquela que o ex-presidente dizia respeitar e proteger, honrando aquilo que ele batizou de liturgia do cargo.

Em poucos dias, ficamos sabendo - atônitos, como sempre - que o senador maranhense, eleito pelo Amapá, teve pelo menos três parentes beneficiados por meio de "atos secretos" editados pelo Senado da República. Falou-se, primeiro, em um neto que, descoberto, teria deixado o cargo outrora ocupado. E o deixou para quem? Para sua própria mãe! Houve ainda uma sobrinha de Sarney, agraciada com mais uma nomeação secreta. Aliás, uma não! Foram duas! Sim, duas sobrinhas de Sarney, mais aquele neto. Não é um caso isolado, um equívoco, uma distração. É, antes, uma ação organizada e cuidadosamente planejada, que contribui para achincalhar cada vez mais da ainda frágil democracia brasileira. Neste contexto, os inúmeros parentes de Sarney não representam apenas indivíduos nomeados "às escondidas" por um Poder Republicano. São, na verdade, uma legião.

Se este fosse um país sério, Sarney seria levado a renunciar. A sociedade não aceitaria essa quantidade embaraçante de desmandos que surgem a cada novo dia no horizonte escuro de Brasília. Basta que lembremos o caso do Reino Unido, onde o Partido Trabalhista, tão tradicional e tão importante na terra da Rainha, está sendo literalmente desintegrado em razão dos sucessivos escândalos de corrupção envolvendo seus membros. Alguns ministros do governo progressista de Gordon Brown já entregaram suas renúncias e esperam apenas a persecução penal que virá certa como a morte. O futuro do atual primeiro-ministro, aliás, é assustador: os trabalhistas devem ser varridos pelos conservadores nas próximas eleições parlamentares britânicas. E tudo por quê? Culpa da crise? Da guerra no Iraque? Que nada! O que mudou os ventos na Inglaterra foi a decidida e firme intolerância dos eleitores daquele país diante da corrupção e dos ataques à democracia.

Mas e aqui? Ora, aqui temos que ler nos jornais os depoimentos "lulistas" de Sarney, repetindo aos quatro ventos que "não sabia de nada". Temos ainda que aturar o maranhense assumindo a condição de vítima, ao insinuar que estaria cansado da vida pública e das pressões supostamente existentes sobre o Parlamento Brasileiro. Fala-se, inclusive, que ele pode renunciar ao mandato em 2010, a fim de repousar um pouco. E eu pergunto: que tipo de inversão de valores morais é esse? Ora, a grande vítima em todos os recentes episódios dos "atos secretos" do Senado é a sociedade brasileira! Os que estão dentro do Congresso Nacional, editando e mandando editar aqueles atos imorais são algozes, isso sim! Onde foi para o senso democrático? Aliás, uma pergunta ainda mais fundamental: onde foi parar a vergonha na cara?

E não são apenas alguns políticos que esqueceram os imperativos morais categóricos. As pessoas do Brasil, em sua grande maioria, também precisam entender que o Congresso Nacional, com todos os seus crimes, suas tramóias e seus "atos secretos", nada mais é que um retrato fiel da nossa sociedade. Enquanto os eleitores não compreenderem que a democracia deve ser protegida a cada dia, extirpando da vida pública quem pretende apenas atender a interesses privados e escusos, não haverá escapatória. Enquanto, mesmo depois de vários escândalos, suas excelências continuarem contando com os votos estúpidos e benevolentes de uma Nação que ainda não compreendeu que uma democracia frágil é a porta que leva ao inferno do totalitarismo, não haverá indignação que baste. Se eles não têm honra suficiente para perceber o lodo no qual estão mergulhados, renunciando à vida pública - e às suas mordomias - e respondendo perante a lei, devem ser escorraçados pelos eleitores.

Assim se faz uma democracia: com eleições, participação, votos, erros e posteriores acertos. Errando sempre, não se consegue nada. Em uma democracia, é preciso agir com inteligência. Não se pode contar com a sorte, mesmo porque o acaso, ao que parece, está sempre a favor daqueles que só esperam uma chance para solapar nossas liberdades. Basta ver que o acaso nos tirou Tancredo... Ulysses... e Covas... Não! Temos que fazer nossa própria sorte e nosso próprio futuro! Temos que vencer os tiranos que tentam, por dentro dos mecanismos democráticos, estuprar a ordem legal estabelecida, valendo-se do Estado para auferir benefícios para si e para os seus, sempre em detrimento da sociedade brasileira. Eles nunca vão se render. É preciso, então, vencê-los! É isso, ou a barbárie.

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